Bem, eu nem sei como começar isto, mas cá vai. É melhor tentar do que não fazer..
Ao fim de 3 anos e um mês resolvemos (acho que posso falar no plural) re-entrar no anonimato blogosférico e começar a despejar novamente cá pra fora o que apetecesse escrever. Depois de tanto tempo a ler bacoradas de toda a espécie, boas e más, geniais e desprezíveis, achei que se calhar eu também sou capaz de dizer algumas coisas engraçadas. E cá vai disto:
A propósito de Distopias
Os crominhos Sergey Brin e Larry Page não escondem propriamente as suas humildes origens científicas. Se vivessem em Portugal, seriam duas espectrais figuras de óculos grossos - mal lavados e piormente vestidos - que assombrariam os penosos corredores do Instituto Superior Técnico, trocando piadas incompreensíveis com os seus semelhantes e ostentando o seu QI de forma sempre barroca e insistente. Pois bem, voltando ao início - cromos.
Quis a Grande Variável Aleatória do Multiverso (ou destino, Deus, karma, etc) que o seu algoritmozinho de garagem os tornasse Instant Billionaires - com todo o mérito que Page e Brin merecem - verdadeiras celebridades cromáticas, venerados, invejados e estudados por bué, bué de gente. O Google lá apareceu nas nossas vidas e dicionários. Hoje é praticamente impossível "andar na net" e fazer de conta que não o conhecemos.
No início, foi engraçado aceder um motor de busca sem lixo; era limpo e eficaz. Tinha piada.
Actualmente continua eficaz, mas já não posso lhes posso elogiar a limpeza. Já me habituei a ver aqueles irritantes linquezinhos inúteis que rendem cêntimos com o mesmo desprezo com que vejo as minhas coisas desarrumadas pelo quarto. É por isso que eu não sou bilionário, talvez um dia eu consiga espalhar o meu lixo em milhares de milhares de sites por toda a net e cobrar fortunas por isso. Enfim.
O império destes rapazes tem como sede o Googleplex, em Mountain View, Cali-fucking-fornia U.S.A. É uma Meca de inovação, investigação, trabalho e entretenimento, aclamada e investigada por todo o mundo ocidental (Ásia incluída). Se se dignarem a investigar um bocado, verão que os Google Employees podem levar o cão para o trabalho ou as crianças, podem dormir lá, têem direito a massagens grátis, ginásio, uma cantina/restaurante com 4 menus diários diferentes: "Charlie’s Grill," "Back to Albuquerque," "East Meets West" e "Vegheads", e eu deixo o resto da lista à vossa imaginação.
É que, apesar do meu sarcasmo evidente, não estou realmente aqui para descrever a filosofia Google. O que eu quero realmente comentar é outra coisa.
Algures na busca pela inovação e pelo bem-estar, os nerds Brin e Page condicionam os seus empregados a sentirem-se "em casa" no seu local de trabalho. Para que a produtividade seja máxima são concedidos todos os prazeres e todas as liberdades. Absolutely no excuses. E pelo que consta, gostam mesmo todos de trabalhar lá. E a empresa até não vai mal.
O que é que está mal aqui? Imaginemos que o modelo pega e que daqui a 50 anos vamos ao supermercado, e somos atendidos na caixa por uma mãe adolescente a tomar conta do seu bebé (no berço, ao lado da caixa). Ou que teremos que esperar pacientemente que um advogado acabe a sua série de 20 repetições antes que possamos entrar no escritório. Estão a ver onde eu quero chegar?
A beleza desta situação é que, se tal acontecer daqui a 50 anos, nem sequer teremos que ir ao supermercado ou ao advogado, porque esses mesmos serviços poderão ser fornecidos pela empresa onde trabalhamos. A nova Família toma conta. E nós gostaremos. Se todos os caprichos forem cumpridos, gostaremos e muito.
Este cenário já foi escrito exaustivamente, já foi imaginado, profetizado, extrapolado.
E nunca estivemos tão perto de o atingir.
Nestes dias em que o mundo se transforma a galope e se vê no limiar de alguma coisa, parece que tudo anda demasiado devagar e nunca nos apercebemos que, se calhar, já demos o distópico passo em frente em direcção ao não-sabemos-bem-o-quê.
sexta-feira, abril 27, 2007
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