Lisboa já tinha um metro, a mais das vezes avariado e que chega a todo lado sem verdadeiramente nos levar a lado algum. Já tinha em Alcântara um abandonado, sujo e triste interface multimodal, como se diz, tinha auto-estradas, uma Segunda Circular, quase sempre engarrafada, uma Cril, ainda que inacabada (rimou mas foi sem querer) e uma Crel, só que lhe faltava mais qualquer coisinha para se sentir uma capital como as outras. Felizmente que o “desejado” que deveria abrir o Parque Mayer passados cinco meses após a sua eleição para presidir aos destinos da Câmara Municipal de Lisboa, teve a "praeclara" e genial ideia de criar um túnel que atravessasse a emblemática praça do Marquês, um pouco como se em Paris de construísse um túnel sob o Arco do Triunfo. De certo que se via já retratado como o Marquês, num quadro de Van Loo, de braço largo apresentando o dito túnel à cidade.
Começaram as obras, o sujeito virou Primeiro Ministro, as ditas foram embargadas, o consulado acabou e regressado à Câmara retomaram-se os trabalhos, que tão importante obra de desenvolvimento não podia parar, marco historio do progresso português à beira rio plantado, aparte o cancro que entretanto se abrira num dos acessos à capital. Mas isso nao interessava nada, que o mais eram bocas da oposiçao e os cancros ja os havia antes mesmo do Presidente, ex-Primeiro Ministro, ter arrebatado o tacho, perdao digo o cargo.
A obra demorou, não tanto como o Convento de Mafra, que o monarca não chegou a ver terminado e que não esta acabado, mas a demora fez-se longa eo que a uns cabe planear a outros caberia inaugurar. Santana partiu e o seu sucessor lá abriu o túnel ontem, Dia da Liberdade, com corta fita e discurso a condizer, suponho eu, ja que as informaçoes sao escassas. E livremente os lisboetas e os que buscam entrar na capital nas suas modernas caleches, utilizaram esta obra de engenharia.
Estupefacção! Segundo noticia do Publico o túnel deve fechar aos fins de semana, feche-se por um mês dizem os bombeiros! Pobre Marquês, do alto do seu pedestal já nem esta obra subterrânea pode contemplar. Entretanto os automobilistas ganharam quinze minutos no trajecto! Quinze minutos! Um prodígio, em quinze minutos um homem não chega à Lua, mas consegue chegar ao outro lado da Praça do Marquês e desembocar em pleno bulício da Fontes Pereira de Melo, agora, mais do que nunca, transformada em via rápida numa cidade cada vez mais descaracterizada. E ainda há quem diga que o pais não se moderniza, quando a capital apresenta um túnel de fazer inveja a qualquer cidade que se preze. Quinze minutos! E o record do TGV que não durou nem um minuto.
Enquanto isso, como o metro ainda não chega às Amoreiras, nem a Campolide, nem a Campo de Ourique, nem a Alcântara, nem à Graça, nem a bem dizer a lado algum que dê mesmo jeito, o desgraçado do utilizador dos amarelos da Carris deve gastar os quinze minutos que ganhou no trajecto, de pé, contra um qualquer estafermo mal cheiroso, ou carregado de sacos de compras, na pior das hipóteses sem ar condicionado, porque esta avariado ou há que fazer economias, Protocolo de Quioto e Aquecimento Global pedem sacrifícios. Isto, claro esta, se a Carris não tiver alterado as carreiras e espaçado os autocarros, que com tão importante ganho de tempo não se justifica tanta irregularidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário