segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Por causa de uma crítica

A propósito da estreia em Portugal da ópera Dionisio, Re di Portogallo de Handel (primeiro ensaio da obra definitiva Sosarme, Re di Media), leio a crítica no Público:

Quanto à prestação do Complesso Barocco e à direcção de Alan Curtis, não sendo tão imaginativa ou arrojada como a de outros agrupamentos vocacionados para este repertório e tendo até algumas falhas (afinação nos "soli" de violino, deslizes nos oboés e trompas), funcionou em geral bem e evidenciou uma compreensão estilítica competente da música de Haendel.
(Cristina Fernandes)

Eu torço o nariz... Não duvido da senhora, que deve ser competentíssima, e mais entendida na matéria. Mas custa-me a crer que a coisa tenha sido tão insípida, que querem que vos diga? Que se trate de um dos mais importantes intérpretes actuais de Handel e da sua orquestra, responsáveies pelas primeiras gravações mundiais de obras como Rodrigo, Lotario, Deidamia, Admeto ou Arminio, nem palavra em toda a crítica. Todas elas gravações aclamadas pela crítica e premiadas internacionalmente. Mas fica-nos os conforto de que “funcionou em geral bem”. E que até “evidenciou uma compreensão estilística competente da música de Haendel”... Deve ser do meu mau feitio. Eu que até já ouvi a Orquestra Gulbenkian a rastejar atrás da guincharia da Fleming. Os gritos histéricos do público que aplaudiram nessa noite na Gulbenkian não desmentem. Acho que sei o que é o horror traduzido em música. Master Handel deve ter dado coices no túmulo.

Volto a dizer: eu não sei se será problema meu ou problema do público e dos críticos que frequentam o São Carlos e a Gulbenkian. Podem sempre calar-me dizendo do alto do pedestal que eu nem sei solfejo e tal, quanto mais criticar a música dos músicos! Mas tenho ouvidos. E se os músicos e os críticos vivem da autofagia, pois que se tranquem todos dentro de uma sala e que se devorem. Eu fico do lado de cá da porta, de orelha encostada à mesma, refastelado, a ouvir.

Vivendo em Portugal aprendi que o caviar é parco alimento para quem vive de feijoada.

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